domingo, 19 de agosto de 2012

"Burra, injusta e covarde", greve nas federais!

A greve das instituições federais chegou a três meses. Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcio Tavares D’Amaral, a reivindicação por melhores salários e revisão do plano de carreira deve ser de outro jeito. Professor da graduação e da pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ e com 40 anos de experiência, Marcio acredita que os professores devem lutar, mas precisam usar as armas que têm, não um mecanismo que foi criado no século XIX.

EXTRA - Professor, qual é a sua opinião sobre a greve?

MARCIO - Apesar de concordar que devemos lutar pela valorização profissional, sou contra a greve. Para mim, é uma forma de luta é burra, injusta e covarde.

EXTRA - Por que a greve tem essas características?

MARCIO - A greve é burra porque nós somos a elite intelectual do país e não é possível que só saibamos lutar usando essa arma. Nós temos que reivindicar como intelectuais e, se isso não der resultado, é porque não fazemos falta. A greve é injusta porque os professores continuam recebendo seus salários. Por último, é covarde porque prejudica os alunos de graduação, já que a pós-graduação continua com as aulas.

EXTRA - E as reivindicações?

MARCIO - Concordo com a reivindicação salarial. Assim como os técnicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), somos pesquisadores. Além disso, por sermos professores, produzimos gerações. Entretanto, o crescimento dos nossos salários é menor em relação ao dos outros pesquisadores. Já o plano de carreira atual, acho melhor que as propostas dos sindicatos, mas não é ideal. Precisamos pensar em algo que favoreça os professores e respeite a formação de cada profissional.

EXTRA - Qual seria opção à greve?

MARCIO - O Brasil tem 59 universidades federais. Uma ideia seria reunir dois representantes de cada instituição, que tivessem uma representação nacional ou regional, e levá-los a Brasília para debater com a presidente Dilma Rousseff. Seria um fato político. Assim, seria possível ampliar a discussão e fazer com que ela chegasse à sociedade. O governo tem medo que a sociedade saiba que ele está agindo mal.

EXTRA - Como o senhor avalia a situação dos alunos?

MARCIO - Os alunos de graduação são, sem dúvida, os mais prejudicados com a greve, se não forem os únicos. São eles que estão há três meses sem aulas. Os estudantes da pós-graduação continuam tendo aula porque os órgãos que financiam as bolsas não reconhecem a greve. As bolsas de mestrado e doutorado têm prazos a serem cumpridos.
 
EXTRA - O governo já disse que a reposição das aulas será obrigatória. Qual sua opinião?

MARCIO - Umas das questões sempre discutida na saída de greve é a reposição das aulas. Isso está fora de questão, porque, é claro, que deve acontecer. Afinal, os alunos não podem ser penalizados pelos nossos atos.
 
EXTRA - Não parece um descompasso que o Brasil receba um ganhador do Prêmio Nobel como professor convidado, mas que as universidades federais estejam em greve?

MARCIO - É uma situação antagônica. Um profissional como esse tem muito a nos ensinar, e os alunos poderiam aproveitar esta troca de conhecimento. Com a greve, entretanto, perde-se bastante. A maioria dos estudantes não sabe da programação e acaba não participando dos eventos que são oferecidos na universidade.

FOTO: MARCELO THEOBALD
FONTE: JORNAL EXTRA

Um comentário:

Bruna disse...

Nós somos da iniciativa privada! rs