“... Vídeo-games não influenciam crianças. Quer dizer, se o Pac-man tivesse influenciado a nossa geração, estaríamos todos correndo em salas escuras, mastigando pílulas mágicas e escutando músicas eletrônicas repetitivas...".
Kristian Wilson, Nintendo, 1989
Quando cunhou a frase acima, Kristian Wilson, então diretor da Nintendo, não imaginava que os videogames influenciariam tanto as gerações seguintes. A frase irônica e sarcástica iria, quase duas décadas depois, tornar-se uma metáfora de uma realidade cruel: o transe das festas rave.
O maior apelo das festas rave parece ser a proposta de “vibração de energia”, a “vibe”, “psi”, ou a transcendência. O tipo de música, de repetição e eletrônica, favorece a que se imaginem certos “estados de transe”. Seria estupidez afirmar que todos “baladeiros” que curtem as Raves tomam as famosas “balinhas” (ecstasy). Mas um grande número toma, e muitos que não tomam, cheiram o seu lança-perfume, ou a sua “loló”... Com poucas exceções, o panorama é este.
É apenas uma versão, mais avançada tecnologicamente, dos antigos “encontros dionisíacos” de alguns grupos hippies, ou dos posteriores rockeiros, ou dos punks e dos góticos.
Mas o que chama a atenção nesta versão atual é a objetividade com que se assume o “transe psi”, que é a grande proposta, a comunhão de energias, sob embalo das “balinhas”, muita água, bebidas, e som eletrônico, traçando a fronteira do novo culto tribal, da alta tecnologia de informação.
Engana-se quem pensa que o mundo muda muito. Ele apenas se transforma, funciona como um espelho invertido. Vejam só, desde a geração hippie, nos anos 70, até hoje, o que mudou ou - na verdade - se transformou.
A drogadicção - ou dependeência química - apenas assumiu uma adaptação a uma nova era de alta tecnologia e informação. Os ácidos lisérgicos, um “must” entre os hippies de 1970, receberam a concorrência do ecstasy, que tem um apelo de “transcendência psi”, a droga do amor, como chamam alguns. Na verdade desidrata o organismo e deixa o sujeito hipersensível a sons, toque e cores, muito parecido com as anfetaminas.
Mas o ecstasy tem o “rótulo” ou a embalagem da droga do “mitológico Dionísio”. Existe um “barato” dos Deuses, do vinho e do amor, Eros e Dionísio, pois é comum escutarmos de pessoas que voltaram dessas “baladas”, no dia seguinte, descrevendo a “Onda de amor”, a “total interação com Deus e com os outros”. Ou seja, houve apenas uma transformação dos grandes encontros de 70, para estes, que colocaram o signo da modernidade, a eletrônica “transcendência psi”.
Ou vocês acham que um bando de pessoas dentro de salas escuras ( festas Rave), ou em grandes pátios cercados, tomando "balas" e ouvindo músicas eletrônicas( Psy, Trance...) , ligadaças, chupando os comprimidos e andando em labirintos,não são exatamente a "imagem de Pac-Man"? Kristian Wilson, de certa forma acertou, atirando no que viu, e acertando no que não viu.
* Lucio Massafferri Salles é psicanalista
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Não querendo polemizar, ainda procuro um sentido para tudo isto. Em breve, formarei uma opinião concreta sobre o tema.
2 comentários:
Interessantíssimo! Isso que é pensar diferente. Correlação genial.
Olá, David. Primeiramente parabéns pelo teu Blog, pelas informações e tudo mais. que legal que achou interessante este pequeno artigo que escrevi para o jornal O DIA, sobre o Pac Man, as Raves e a "profecia de Wilson". Na verdade a intenção, quando fiz a analogia, era de tecer uma comparação com humor e que nos levasse a pensar que: "não é que é um pouco parecido mesmo?". Minha inspiração para escrever isso foi "Blade Runner". Abraços. Lucio Lauro M. Salles
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