A Ponte Rio-Niterói foi a ponta do iceberg. Segundo Paulina Porto, pesquisadora da Coppe do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da UFRJ, a
manifestação do Greenpeace na manhã desta quarta-feira prejudicou o trânsito em toda a região leste da Baía de Guanabara, atingindo municípios como São Gonçalo e Maricá.
"Se eles estão fazendo um movimento contra o aquecimento global, deveriam saber que o principal causador é o gás CO2. O anda e para do trânsito faz lançar muito mais combustível, toneladas de poluentes no ar, causando um aumento absurdo de emissão. Isso é um contrasenso sem tamanho", critica a pesquisadora.
A Ong diz que o alerta foi válido para que medidas de combate ao aquecimento do planeta sejam tomadas em reunião sobre a crise financeira que começa nesta quinta-feira na Inglaterra, com líderes dos 20 países mais ricos do mundo. Para isso alpinistas do movimento colocaram um grande painel na ponte com a mensagem em inglês: "Líderes mundiais, o clima e as pessoas em primeiro lugar".
O transtorno causado aos motoristas foi justificado pelo coordenador da campanha da Amazônia no Rio de Janeiro, Paulo Adário, que esteve no local do protesto, e admitiu que a ação é poluidora, mas que 'às vezes é preciso usar o veneno da cobra para combater a cobra', filosofou.
"O objetivo não era parar o trânsito, interrompemos uma das quatro faixas por quinze minutos para dar garantia de segurança para os nossos homens. Em seguida chegou a administração da Ponte com outros carros e aumentou o problema. Os veículos diminuíram a velocidade para observar o protesto. Quando diminiu o fluxo do trânsito aumentam as emissões. Mas gostaria de pedir desculpas em nome do transtorno gerado e agradecer aos motoristas, porque eles foram parceiros involuntários".
Na opinião de Paulina Porto, porém, mesmo que os motoristas tivessem apreço pela causa ambiental, manifestações como essa despertam o sentimento oposto àquele imaginado por seus organizadores. "O protesto poderia ser feito em outro local. Eles afetaram a população que trabalha. Isso é injusto. As pessoas vão odiar a causa. Imagina o povão em pé no ônibus", explica a pesquisadora.
Adário fez uma comparação entre o protesto e o encontro que discutirá soluções para o aquecimento global na Dinamarca no fim do ano. "Mais de 10 mil pessoas vão de avião para a reunião no final do ano em Copenhagen para buscar soluções. Imagina o que eles vão emitir", disse.
A pesquisadora da UFRJ refutou a comparação: "Os líderes mundiais não têm alternativas. Não podem perder a capacidade de mobilidade. Quem foi afetado aqui não é quem vai decidir nada. Só desperta a ira da população trabalhadora, que vai sentir no bolso".
Por Diogo Dantas, Rio de Janeiro.