terça-feira, 17 de março de 2009

Tribulação.


"Que história mais terrível a da menina de 9 anos que, abusada sexualmente pelo padrasto, engravidou de gêmeos e, no último dia 4 de março, foi submetida aos procedimentos médicos necessários para abortar os fetos! Quando li as notícias e comentários nas revistas e jornais, participei da indignação geral e refleti sobre o ocorrido, inclusive sobre a reação da igreja. Muitos devem ter pensado as mesmas coisas. O absurdo da pedofilia.Um adulto, um padrasto, um pai... abusar sexualmente de uma criança, no caso, enteada! E desde os seis anos desta! Que mente suja, egoísta, perversa, inconsequente! É preciso estar muito, muito distante de Deus e afundado nas trevas do pecado para fazer uma coisa assim. Com que outros olhos um cristão olha para uma criança, para uma adolescente, para uma filha! O absurdo da falta de diálogo.A mãe da criança disse que não sabia, que não percebeu. Longe de mim julgá-la e condená-la. Pergunto-me, porém: Como pôde acontecer! Por três anos! A filha, criança, acabrunhada, triste, assustada, ameaçada... Mãe ausente? Nenhum diálogo com a filha que chega à puberdade, que vira menina moça? Nenhuma orientação sexual? Nenhuma abertura de coração da filha com a mãe? Carinhos, olhares, malícia, procedimentos do marido... Esposa ingênua? Casamento sem amor? Ficam as lições, as advertências... para todos nós. O aborto. Absurdo?Então, acontece o quase impossível, o muito raro: a gravidez tão precoce, e de gêmeos. A revista Veja mencionou um caso único ainda mais estranho: menina de 5 anos engravidou e deu à luz uma criança com pouco mais que 2 quilos. A criança sobreviveu e foi criada como seu irmão até aos 10 anos. Soube, então, que a “irmã” de 15 era, na verdade, sua mãe! Mas a menina da semana passada corria sério risco de vida, segundo os médicos. Mãe e médicos decidiram pelo aborto, sempre lamentável, extremo, polêmico. O corpo se recupera, mas a alma... Vai levar muito tempo. Pobre menina! Excomunhão. Absurdo?Também aqui, senti muita indignação. Sou cristão evangélico, pastor presbiteriano. Tenho o chamado “temor do Senhor”. Conheço os Dez Mandamentos” (e muitos outros); leio a Bíblia todos os dias e converso com Deus e com o meu Salvador e Senhor Jesus Cristo. Sei o que a Bíblia diz sobre “disciplina eclesiástica”, o que a Igreja Católica chama de “excomunhão”. O assunto é delicado, complexo, porque nos posiciona entre correção, às vezes com a dita disciplina, e graça, amor e perdão. Mas neste caso terrível, há algumas coisas a ponderar, com todo respeito à autoridade eclesiástica envolvida e à Igreja que o apoiou.Por que excomungar a mãe e os médicos (que somente pensavam em salvar a vida da pobre menina) e deixar impune (do ponto de vista eclesiástico) o vilão da história ou, prefiro dizer, o indivíduo que causou tanto mal à pobre menina?Por que usar o mandamento “Não matarás” para condenar o aborto, sem apelação, e não pensar na vida da menina! Fetos de 4 meses são mais vida humana que uma menina de 9 anos, já bastante sofrida? Não cabe aqui a questão científica, filosófica e teológica referente ao começo da vida: ocorre na concepção, a certa altura da gestação ou no nascimento? A excomunhão católica priva o “fiel” do batismo, do casamento, da eucaristia... De que modo ele será acompanhado, assistido, levado ao arrependimento, se realmente caiu em pecado? De que modo a igreja obedecerá não somente ao “Não matarás”, mas também ao “Amarás”?A graça, o amor e o perdão de Jesus, Senhor da Igreja. Os judeus arrastaram à presença de Jesus uma mulher surpreendida em adultério. (Por que não levaram o homem também? Ver Levítico 20.10). Não foi para que Jesus a corrigisse e ajudasse, mas para pô-lo à prova. Tinham pedras nas mãos para apedrejar a pecadora. Você certamente conhece o desfecho. Jesus, por fim, lhes disse: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro que lhe atire pedra”. Acusados pela própria consciência, aqueles homens deixaram cair as pedras e foram saindo de mansinho... Então Jesus disse à mulher: “Vai, e não peques mais!” O pedófilo tem que ser punido pelas leis do país (Romanos 13.3-4); a igreja deve condenar o pecado e amar o pecador. Precisa ir lá com a mensagem do evangelho, que inclui chamada ao arrependimento, promessa de perdão e discipulado, na esperança de transformação genuína. Quanto à mãe e aos médicos, que situação!"
Pr. Éber Lenz César
Igreja Presbiteriana Luz do Mundo Laranjeiras, Rio de Janeiro, RJ

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse assunto é mesmo muito delicado. São várias questões abordadas em um único acontecimento. Mãe presente (ausente), fé, amor, julgamentos. Assuntos delicados e complexos.

Esse pastor disse muitas coisas interessantes.

E quando me lembro desta e de outras atrocidades quem vêm acontecendo no mundo atual, só me faz ter certeza do que escrevi dias desses, no meu blog: falta é RESPEITO entre as pessoas, de uma forma geral.

Triste isso...

Abraços,
Lari


PS: bacana vc colocar este texto no seu blog. Gostei.

Anônimo disse...

toda questão está limitada a teologia usada, a dogmática.
Uso simples da legislação eclesiástica católica, naturalmente.
A igreja brasileira, exceto a católica, deve se guiar não por dogmas, mas por princípios bíblicos.
E que nossa ortopraxia não se oponha a nossa ortodoxia.

Anônimo disse...

toda questão está limitada a teologia usada, a dogmática.
Uso simples da legislação eclesiástica católica, naturalmente.
A igreja brasileira, exceto a católica, deve se guiar não por dogmas, mas por princípios bíblicos.
E que nossa ortopraxia não se oponha a nossa ortodoxia.