quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

CSI, Rio!


Rio - A velha faixa plástica, rajada de preto e amarelo, isolava o local do crime: uma guarita da Guarda Municipal na Floresta da Tijuca, no acesso pela Rua Pacheco Leão, no Horto. Ao ser avisada sobre o encontro de um cadáver, a equipe da Divisão de Homicídios chegou ao local em menos de 30 minutos. E quem presenciou estranhou todo o efetivo deslocado: eram dois delegados, dois peritos criminais, um papiloscopista, três auxiliares, um médico legista e mais 11 inspetores de polícia, com um aparato tecnológico digno da perícia criminal da série americana CSI — que detalha complicadas investigações em que os agentes sempre empregam técnicas e equipamento de ponta.

Desde segunda-feira, quando a divisão começou a funcionar, oito locais de assassinato foram analisados pelo olhar minucioso da nova estrutura. Um laptop dá agilidade ao trabalho da perícia e os policiais militares não precisam mais ‘guardar’ o corpo — muitas vezes por mais de seis horas — até o momento de se desfazer a cena do crime.Em torno do corpo do produtor teatral José Frederico Canto Pinheiro, 58 anos, a equipe se dividiu: dois peritos e seus assistentes revistaram os bolsos da vítima, fizeram medições do espaço com uma fita métrica, tiraram fotos, fizeram filmagens e recolheram tudo o que pudesse ser prova em sacos plásticos com a descrição do material. Discutiram, ainda, a provável posição de José Frederico e os golpes do assassino, que usou um estilete para cortar o pescoço da vítima, possivelmente segurando-o por trás. Enquanto isso, o papiloscopista usava um pó específico e um mini espanador para identificar digitais.Com um laptop, um dos delegados relacionava no inquérito todas as peças e informações dadas pelos peritos. Ligado ao banco de dados da Polícia Civil, ele conseguiu verificar que a família do produtor teatral havia feito registro de ocorrência de desaparecimento na 15ª DP (Gávea), terça-feira, dia 9, por volta das 21 horas. José Frederico, morador da Gávea e responsável por um projeto de teatro no Morro do Vidigal, estaria desaparecido desde o dia anteriorA perícia durou duas horas e o rabecão do Corpo de Bombeiros já estava à espera da liberação do corpo. Os bombeiros de plantão até trocaram telefones particulares com os policiais da equipe para facilitar o contato. Por causa do laptop, a guia de remoção foi feita na hora e economizou o tempo dos bombeiros, que normalmente deveriam buscar o documento na delegacia mais próxima. Uma equipe de investigadores ainda circulou pela rua à procura de câmeras que pudessem ter flagrado alguém subindo a Rua Pacheco Leão com José Frederico.
Segundo o diretor da Divisão de Homicídios, delegado Felipe Ettore, os agentes precisam estar atentos para desvendar e interpretar as características de uma cena de crime, como pegadas no chão, guimbas de cigarro espalhadas, manchas de sangue ou fios de cabelo. “Tudo precisa ser recolhido para análise no laboratório. Queremos encontrar os autores e indiciá-los o mais rapidamente possível”, disse.
Canhão de luz acha sangue e até esperma
Um dos equipamentos mais modernos da divisão ainda não foi inaugurado. Trata-se do ‘crimescoop’, um canhão de luz capaz de identificar no ambiente manchas de sangue e até esperma, mesmo num local que tenha sido limpo. É coisa de filme. Mas a promessa é de transformar em realidade o que até então só se via mesmo na TV. Com óculos especiais, os policiais poderão visualizar esses indícios nas cenas de crimes e armazená-los em lâminas de vidro ou com algodão em tubos de ensaio.
Para ambientes fechados e perícias que precisem de mais tempo de trabalho, como numa chacina, por exemplo, um microônibus será usado pelo grupo. “Ele possui um gerador capaz de dar claridade à cena de um crime como se fosse luz do dia. Dentro dele seguem todos os equipamentos necessários e até detector de metais, para que a gente possa procurar armas enterradas, por exemplo”, explicou o diretor da Divisão de Homicídios, delegado Felipe Ettore.
Comunicação rápida pode fazer diferença
O programa ainda está sendo ajustado. Um dos detalhes mais importantes é a ligação rápida para a Divisão de Homicídios. Ontem, o corpo de José Frederico foi encontrado às 6h50 por um guarda municipal. Ele ligou para o 190 da PM, que mandou uma viatura do 23º BPM (Leblon) para a Estrada Dona Castorina. Os PMs acionaram a 15ª DP (Gávea), que chegou ao local por volta das 9h. A Divisão de Homicídios foi acionada às 9h20.
“Estamos cobrindo toda a capital e por isso o trabalho tem que estar integrado. Os comandantes da Polícia Militar já foram avisados e logo todos os PMs, quando estiverem numa ocorrência como esta, vão avisar à Central de Comunicação da Polícia Civil, que vai chamar a divisão. Dividimos a cidade em seis áreas e temos policiais espalhados pelo Rio, trabalhando na rua. A meta é chegar em qualquer local de homicídio em até 20 minutos”, explicou o delegado Felipe Ettore.
A Divisão de Homicídios conta com 250 policiais, 120 deles recém formados na Academia de Polícia. De acordo com o delegado, 90% dos novos policiais passaram por treinamento especial para trabalhar na divisão. Há ainda seis peritos criminais, seis papiloscopistas e, diariamente, um médico Legista do Instituto médico legal (IML) acompanha a equipe.
Fonte:http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/2/nova_divisao_de_homicidios_a_policia_como_voce_so_via_na_tv_63568.html

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