RIO - Fantasma. Falta de inspiração. Chuva. Morte. Drogas. Esses foram os responsáveis por afastar Black Alien do mainstream.
“Por ideologia”, como disse em conversa por telefone com O GLOBO, o
rapper se recusou a participar da turnê de reunião de sua ex-banda, o
Planet Hemp, que roda o Brasil desde setembro. Mas o niteroiense de 40
anos está de volta, com disco novo — o lançamento está previsto para
março — e retorno aos palcos já neste sábado, na festa Luv 4 anos, na
Estação Leopoldina. Na última semana, ele publicou no YouTube a canção
inédita “Pra quem a carapuça caiba”, que já ultrapassou as 18 mil
visualizações.
Por que você levou oito anos para lançar o segundo disco solo, “Babylon by Gus, volume 2”?
Não
tive nada para falar de 2004 até 2009, quando fui gravar em São Paulo.
Foram 44 dias de chuva ininterruptos. Ainda apareceu um fantasma no
estúdio e assombrou o Alexandre Basa, meu produtor. Era o espírito de
uma menina que se matou naquela casa após ser deixada no altar pelo
noivo. Chamaram um padre, que mandou o espírito para a luz. Na mesma
semana, o Speed (o rapper Cláudio Márcio de Souza Santos) morreu. Voltei para o Rio, meio atordoado. Só agora consegui me ajeitar.
Quais são suas inspirações?
Deus,
a família e os tempos que estamos vivendo. Comecei a anotar coisas
sobre as eleições brasileiras e as gringas. E sobre as profecias que se
concretizaram.
Você já foi parceiro de nomes como Herbert Vianna e Bi Ribeiro. Pretende convidar alguém para o álbum?
As
letras são todas minhas. Serão de 12 a 14 faixas, com dois reggaes, mas
é mais rap mesmo. Vou convidar cantores e MCs como Ogi, Flora Matos,
Kamau e Gabriel O Pensador.
E os shows?
A turnê começa em março, mas tenho alguns shows marcados de agora até janeiro.
“Pra quem a carapuça caiba” tem menções às drogas. Qual sua relação com elas atualmente?
Fiquei
cinco meses em reabilitação. Agora estou ótimo. Consegui me livrar de
tudo, menos do tabaco. Venho tentando reverter a mensagem que estava
mandando antes, se é que você me entende. A minha opinião sobre as
drogas no disco 1 era "não use" através de metáforas. No 2, meu discurso
é “pelo amor de Deus, seja homem e não use”. Continuo dizendo não a
qualquer tipo de droga, inclusive as liberadas: o café, o tabaco, o
álcool e o Rivotril. O fato de minha mulher estar grávida contribuiu
para eu me retirar, descansar e reavaliar os meus valores.
Por que você não está participando da turnê de reunião do Planet Hemp?
Por
ideologia. Eles não estão levantando uma bandeira? Eu não levanto
bandeira nenhuma. Não quero meu nome associado a isso. Primeiro, existe
uma redundância gramatical: “Legalize já, uma erva natural não pode te
prejudicar”. Uma erva já é natural. Em português já está errado,
confere? E “não pode te prejudicar" como, se fui preso? Eu tenho 40
anos. Na época do Planet, tinha 23. E me prejudicou. Conquistei minha
carreira com muita dificuldade, com um público entre 800 e 2500 pessoas.
A de "não sei quem" é de 20 mil pessoas. Mas graças a Deus não estou
passando fome. Pude parar, refletir... Não tenho do que reclamar da
vida, nem quero causar discórdia, arrumar polêmica.
Não existe chance de você participar de algum show?
Não
vou participar de nada. Não é isso o que eu quero para os jovens. Não é
questão de “não faça o que eu faço; faça o que eu digo”. É uma questão
de realmente não acreditar mais nisso. Está errado. Se eu escrevesse
sobre coisas em que não acredito, teria outra profissão. O poeta é
bobão, ele escreve por ideologia, não quer saber de grana. Eu sou esse
cara aí.
Fonte: Jornal O Globo
Foto: Reprodução/Internet
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