sexta-feira, 27 de maio de 2011

Dejan Rambo Petkovic.



Talvez muitos nem se lembrem de um presente de aniversário de dez anos atrás. Ou até mesmo o que fazia, o que tocava nas rádios, o filme do ano daquela época, quem tinha sido eleito naquelas eleições...

Mas, para a maior torcida do mundo. O ano de 2001 foi inesquecível! Coisas que só o futebol, que é definitivamente a paixão nacional, pode proporcionar (e há quem critique a devoção brasileira).

Eu me lembro exatamente daquele dia, era um domingo. A semana que antecedera o clássico entre os maiores rivais da época ( Flamengo e Vasco), tinha sido tensa. Ir à escola durante os cinco dias úteis da semana foi uma tarefa árdua. Afinal, o primeiro jogo da decisão, o Vasco tinha vencido o Flamengo, levava a decisão final com vantagem de gol e empate. E na escola inteira, não havia outro assunto, todos falavam do próximo e fatídico jogo. Era assunto em sala de aula, fora da sala, no intervalo e no caminho para casa.

Minha mãe tinha liberado uma verba, para que eu pudesse comprar pano nas cores do Flamengo (o manto sagrado vermelho e preto), e num toque de mágica em dois dias, consegui estar com a maior bandeira do condomínio onde eu morava. Mesmo assim, não era o bastante, pois só a fachada da minha casa estava protegida contra qualquer energia negativa, era necessário mais...

No futebol, a palavra "milagre" ganha outro significado, às vezes por ser impossível (e ganhar a dramaticidade original), ou por ser uma tarefa "quase" impossível. E convenhanos, "quase" é uma desculpa para ir lá e fazer, para depois zombar e sacanear os adversários.

Pois bem, de sábado para domingo, eu não tinha conseguido dormir, estava preocupado. Tinha que acordar cedo, para ser o primeiro a comprar um jornal em especial. Tratava-se de uma promoção, o jornal daria uma bandeira pequena de plástico e um cd com hinos e gritos da torcida. Eu tinha passado o sábado com meu avô, e ele em sua bondade, advinhando também me patrocinou a compra deste jornal, que por ser uma edição de domingo, era mais caro, com o kit, ficava mais caro ainda. 

Às 4 horas da matina eu estava de pé, esperando dar 5 horas para abrir a banca de jornal com o jornaleiro! E assim foi, quando eu cheguei para comprar o jornal, ele (o jornaleiro) abriu um sorriso e ainda brincou - "aproveita para levar o pão do café da manhã" - aquilo fazia muito sentido, porque a sua banca ficava de frente para uma padaria que abria também às 5.

Esperar até a hora do jogo, foi desgastante, li todas as notícias do jornal, vi todos os programas de tv. E sinceramente, não tive cabeça e concentração para ir à igreja. Seria falta de "respeito" com deus! Estar com o corpo presente e o coração distante. Na hora do almoço então, cada garfada lentamente deixava minha mãe e minha irmã irritadas. Não tinha fome.

Todo flamenguista é enjoado, chato, porque está acostumado a vencer. Mesmo com o clube sofrendo com péssimas administrações e ficando a anos luzes de outros clubes (de outros estados), o time sempre que chegava faturava. Dificilmente, o Flamengo perde uma decisão, e quando perde, perde por conta própria. Por ter perdido para ele mesmo!

Os fógos de artíficio estouravam sem parar, parecia jogo do Goyta (time amado e idolatrado, salve salve de Campos). A hora, enfim se aproximava, a espera de uma semana inteira (torturante), estava para acabar...

O time do Flamengo daquele ano era muito bom. Tinham 3 jogadores que mais tarde brilhariam com a seleção brasileira: Júlio Cesar, Juan e Adriano. Fora o Leandro Àvila, Alessandro, Reinaldo, Edílson. Mas, o Flamengo tinha um elemento surpresa, aquele jogador que pode desequilibrar a qualquer momento, que basta tocar na bola e bola se submeter a genialidade, era um sérvio, Dejan Petkovic.

É, um gringo, típico e clássico camisa 10. Não um gringo comum, qualquer. Era um gringo europeu, da antiga Iuguslávia. Fato extremamente incomum ao cenário brasileiro, que sempre importou alguns talentos sul-americanos. Desta vez, a bola toda estava com ele, um jogador de ego e vaidade acima do normal.

Dejan "Rambo" Petkovic, começou no seu país no Estrela Vermelha. Com passagem até pelo Real Madrid. Ele lembra como veio parar no país do futebol. Sem muito mercado na Europa e se recuperando de uma lesão, um dirigent e um empresário fizeram uma proposta para jogar no Brasil, a terra dos maiores craques. Mas, não foi como imaginou -"me disseram que iria jogar num bom clube, com estrutura" - dizia. Na verdade, Petkovic começou sua jornada no Vitória da Bahia. E uma de suas recordações era que o campo de treinamento era perto de um lixão, sem contar a pobreza, ele se assustou com o Brasil. 

Quis o destino que tempo depois, após retornar da Europa novamente, o craque, assinasse com o Flamengo. A adaptação foi conturbada, chegou a ficar no banco de reservas. Teve problemas com Edílson, e não recebia o salário, aliás, diga-se de passagem, ele foi muito "louco" em contornar isto tudo!

Deu a hora do jogo, unhas? Não existiam mais... o Flamengo precisava ganhar por uma diferença de 2 gols, e não seria fácil, o Vasco já tinha provado na outra final que tinha um bom elenco. Embora o retrospecto não favorecesse (o time da colina vinha de derrota dois anos consecutivos para o Flamengo)! O Flamengo lutava pelo quarto tri-campeonato carioca de sua história.

O Maracanã, palco maior da história do futebol mundial. Onde, Pelé, Garrincha, Didi, Zico, Dinamite, Romário e cia, desfilaram o verdadeiro futebol brasileiro, estava abarrotado. Não tinha como entrar mais ninguém, as duas torcidas duelavam cânticos e tensão era gigante, proporcional ao tamnho e significado daquela partida.

No gramado, onde a bola rola. Tudo se encaminhava para um script de cinema, o Flamengo deu as caras e fez um gol, num bom momento da partida. Lembro que levantei e tropecei na mesinha da sala (doeu pra caramba), o grito alto provocou e machucou alguns dos pobres coitados vizinhos vascaínos. Tinha um, inclusive, que morava de frente para a minha casa. Tinha que olhar o manto, protegendo a casa e aguentar minhas provocações e suspiros.

Mas, como numa decisão sempre há um drama. Não foi diferente, o Vasco, no fim do primeiro tempo empata o maldito jogo. Fora, que o Flamengo levava contra-ataques quase fuminantes, e se não fosse a estrela e capacidade do Júlio Cesar, a festa poderia ter sido de outra torcida.

Nesta altura do campeonato, com os nervos a flor da pele. Eu já estava isolado na sala, minha mãe e irmã foram assistir no quarto (sabe como é, o sujeito fica irritado quando mulher interrompe o futebol)! No banco de reservas, o Flamengo era comandado pelo mito velho lobo Zagallo, ele tinha lançado um bordão "vão ter que me engolir", e teriam mesmo...

No segundo tempo, o Flamengo entrou ligadão na partida, e logo marcou um gol. 2 x 1, no placar do Maracanã, mesmo assim, este resultado ainda dava o título ao Vasco. O tempo passava e o time não conseguia encontrar o terceiro gol. E quando tudo parecia perdido...

Fabiano Eller, faria uma falta que jamais esqueceria. Em cima do Edílson, um pouco longe da grande área, era o lance aos 43 do segundo tempo, que determinaria a história daquele campeonato. Petkovic, que tinha batido duas faltas (muito mal!!!), pegou a bola e tomou pouca distância.

Dava para ouvir a respiração e o coração bater. A torcida rubro-negra, num último suspiro de esperança e fé, mandava a única energia possível, a energia de que podia acontecer. Era difícil, a faltava não estava próxima, Pet não tinha o estilo de bater forte, ele sempre cobrava de forma colocada. Mas, ali naquele momento, tudo se resumia ao lance. Eurico Miranda que tinha desdenhado do Flamengo, os salários atrasados, o "racha" dentro do elenco...

Veja aqui, o que aconteceu:

http://www.youtube.com/watch?v=DJCyeS1cqEQ


GOLLLLLLLLLLL

Petkovic, inacreditável!!!

O tri era nosso, o Flamengo calava e traumatizava para sempre o Vasco e seus torcedores. Dez anos se passaram, e a magia continua viva! Em alguns dias, o herói do tri e um dos heróis do hexa, se despede de vez do futebol. Mas, o nosso agradecimento (de todos os brasileiros e clubes pelo qual jogou) fica...o muito obrigado sempre, querido Rambo!

4 comentários:

Anônimo disse...

fodástico

Anônimo disse...

arowww oh adriano tah me ouvindo ??

Sabrina Hezman disse...

Mengão! =)

ઇ‍ઉ hominum confusione et Dei providentia ઇ‍ઉ disse...

Petkovic fez sua história...merece essa despedida!